21 Jul
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Autor: José Barata de Castilho


Este edifício situava-se no interior da alcáçova do Castelo, com traseiras para Norte e uma parte lateral para Leste, na qual se situava a torre que ainda existe, tal como Duarte de Armas a desenhou em 1509. A fachada de entrada ficava virada a Sul. Partindo da descrição feita pela Ordem de Cristo em 1505 e desenhos de Duarte de Armas de 1509, elaborámos uma imagem que aqui apresentamos.

                                    Reconstituição do Paço elaborada pelo Autor


A descrição escrita foi apresentada por Élder Carita, 2019, que reproduziu a leitura do manuscrito. Para facilitar a leitura aos leigos nestas matérias – já que o nosso objectivo é divulgar cultura a nível acessível aos contemporâneos não especialistas – apresentamos o texto com ortografia do início deste séc. XXI e “traduzimos” algumas palavras, dando o original em nota de rodapé.

Reproduzimos, também, duas das gravuras de Duarte de Armas.

DESCRIÇÃO DO PAÇO DOS ALCAIDES DE CASTELO BRANCO, em 1505 [1]  

 In Tombo da Ordem de Cristo, Lisboa, Centro de Estudos Medievais, vol.5, Lisboa, 2009,p.242  

“Tem primeiramente a dita ordem na dita vila de Castelo Branco uns paços que estão junto da igreja de santa Maria. E são nesta maneira:   Entre a oussia da dita igreja e o muro da cerca está um grande portal de pedraria com suas portas bem obrado e logo um recebimento que leva de longo 32 varas de medir e 20 de largo e tem à entrada logo à mão direita uma casa nova para estrebaria. As paredes de pedra e barro bem madeirada e coberta de telha nova. Com seu portal novo de pedraria e boas portas. Leva oito varas de longo e cinco de largo.   Da outra parte da mão esquerda[2] tem uma cisterna, que se enche da água do telhado da dita igreja. 


  [1] https://acasasenhorial.org/acs/index.php/en/fontes-documentais-en/plantas-antigas-en/436-paco-dos-alcaides-de-castelo-branco-1508

[2] Tradução de seestra, do latim sinistra ; oussia é a parte  onde  se situa a capela-mor.  A vara tinha 5 palmos de 22cm o que totalizava 1,10m.

                                                Desenho de Duarte de Armas, 1509


Defronte da dita entrada está logo um alpendre sobre quatro arcos de pedraria muito bem obrados e sobre eles uma varanda. Debaixo da dita varanda tem logo uma loja sobre que vai à sala e serve de estrebaria com suas manjedoiras que tem nove varas de longo e quatro de largo e está nela um portal pequeno na parede do muro contra o norte a que chamam a porta da traição. Outra loja junto desta, seis varas de longo e quatro de largo. Outra loja junto desta que leva três varas e meia de longo e outro tanto de largo. Estas lojas têm suas portas no dito alpendre. À mão esquerda do dito recebimento tem uma escada de pedraria muito bem obrada em que há 23 degraus com seu mainel de pedraria debruado e dous tabuleiros um ao pé e outro no cimo da dita escada. À entrada dos ditos paços tem logo a dita varanda forrada de olivel[1] de castanho sobre as asnas armada sobre colunas de pedra com seu peitoril de pedraria bem obrado e tem um repartimento de uma meia parede com sua porta fechada e o repartimento  é sobre maciço lajeado, onde dentro nele está feito um aljube com sua porta de alçapões de pedra e leva esta varanda de comprido 16 varas de medir.   Logo nesta entrada à mão esquerda da dita varanda tem uma casa térrea bem madeirada e coberta de telha vã e nela uma fornalha e serve de cozinha.  Tem logo uma sala forrada de olivel de madeira de castanho sobre as asnas com suas traves forradas e seus alizares e cachorros de arredor e tem a um canto uma chaminé de pedraria e três grandes janelas com suas portas, uma para a dita varanda ferrada com rede de ferro e duas que vão contra o norte. Uma de assentos e outra com peitoril de ferros e leva dez varas de longo e seis de largo:   Mais adiante tem uma câmara olivelada do mesmo teor da sala e nela outra tal chaminé e duas janelas de assentos uma ao norte e outra ao abrigo[2] ferrada de rede sobre a varanda. Com suas portas boas, leva sete varas de longo e seis varas de largo.   Mais adiante tem uma guarda-roupa olivelada do mesmo teor e com outra tal chaminé de pedraria e duas janelas de assentos uma ao norte e outra de cruz ao levante, com suas portas boas, leva nove varas de longo e 4 de largo.   Esta casa está feita em uma torre do muro.   Em esta casa está uma escada de madeira por que descem a uma câmara que debaixo dela esta argamassada sobre maciço, muito bem madeirada e nela uma janela de assentos com uns ferros muito bem obrados e boas portas, leva quatro varas de longo e três e meia de largo.   


   [1] Pelo que apurámos, tratava-se se tábuas finas sem encaixe umas nas outras.  

 [2] No original abrego que significa a sul (abrigo dos ventos de  Norte, Noroeste e Nordeste, bem frios no Inverno).   


Desenho de Duarte de Armas, 1509, dos lados Norte e Leste


À mão direita da dita guarda roupa vai uma câmara forrada de olivel da sobredita maneira e tem duas janelas de assentos, uma ao levante e outra ao abrigo sobre o recebimento com suas portas boas e tem uma chaminé de tijolo, leva cinco varas de longo e quatro e meia de largo e tem uma porta para a varanda e uma escada que vai a um sótão, o qual sótão é de três varas e meia de longo e doutras tantas de largo:   Estes paços estão sobre o muro e as paredes deles são todas de pedraria lavrada com suas juntas feitas de cal e todos os portais são de pedraria e tem mui boas portas e bem fechadas e tudo bem reparado.   A um canto da dita sala está uma escada de pedraria de cinco degraus com seu portal e portas boas que vai para o muro e pelo dito muro vai um corredor que ora se guarnece de ameias de novo de um cabo e do outro e vai ter a uma torre grande e forte que no canto do dito muro está e chama-se a torre albarrã e tem um sobrado e é forrada de olivel e coberta de tela.   Entre a dita torre, igreja, paços e muro vai um grande chão com 20 árvores de fruto e leva de longo 27 braças de craveira e 17 de largo.   Em poder de Diego Alvarez almoxarife esta uma grade de ferro feita em rede que ficou dos ditos paços e um ferrolho com sua fechadura…”   


Bibliografia:  

Tombo da Ordem de Cristo, Lisboa, Centro de Estudos Medievais, vol.5, Lisboa, 2009, pp.241-244 Coordenação e texto. Élder Carita, 2019.   


                                               Castelo Branco, Julho de 2021

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